NATUREZA VIVA - WALTER J.PERES
























O ARTISTA




WALTER J. PERES

Amador de fotografia sem nenhuma pretensão profissional, que aproveita o pretexto de fotografar para conhecer a natureza de perto. Tem suas principais inspirações nos grandes mestres da fotografia e uma admiração impar pelos fotógrafos brasileiros Araquém Alcântara e Sebastião Salgado.

Contato: walterjperes@gmail.com


Entrevista com Walter J. Peres

  • Quando o artista consegue passar para a fotografia o seu sentimento?


O Ansel Adams dizia que a gente fotografa com os livros que leu, com os filmes que assistiu, com as viagens que fez e com as músicas que ouviu... e eu acrescento: com todas as fotografias e pinturas que vimos. Mas, sobretudo a fotografia tem que transportar quem a vê para o ambiente fotografado, tem que atrair para o mistério de "como ele [fotógrafo] conseguiu isso?". Quando isto acontece é porque você conseguiu de alguma forma colocar um pouco de você na sua fotografia.

  • Para fotografar a natureza, é preciso estar no lugar certo e na hora certa ou basta apenas a inspiração?


Estar no lugar certo, na hora certa, estar inspirado e sorte. É um pouco de tudo. Há dias em que não consigo pensar em como fotografar uma xícara. Tem vezes que saio para o mato e as coisas vão aparecendo, a natureza acontecendo na minha frente como um presente. É delirante.

  • Como foi o primeiro contato de Walter J. Peres com a fotografia, quando despertou essa paixão?


Comprei uma maquininha compacta há cerca de uns 10 anos e daí pra cá foi um vicio só. Fotografia é praticamente uma terapia. Faz muito bem pra alma.

  • O artista independe de formação, sua alma já nasce livre para criar, em sua opinião, o que caracteriza uma foto artística?


Pra mim o que define uma foto artística é quando uma pessoa passa o olhar sobre essa foto e por um instante para o olhar nela ao invés de passar direto. Quando isto acontece é porque há algo ali que faz daquela foto algo mais que uma mera imagem.
  • Nosso planeta e o nosso país são riquíssimos em recursos naturais. Que lugar do país e do mundo seria seu sonho poder fotografar.


Aqui no Brasil tenho vontade de ir ao Pantanal. Aquilo lá é um paraíso para fotógrafos de natureza.
Portugal é um país belíssimo. Fico encantado com fotografias que vejo de lá. Acho que os portugueses de um modo geral gostam muito de fotografia. Tenho muita vontade de visitar aquele país.

  • Escolher o título para uma fotografia requer sensibilidade poética. A escolha do título pode influenciar na forma de contemplar a fotografia?


Sou péssimo nisso. Tem horas em que o mais difícil é dar um titulo a fotografia. Acho que ele ajuda a compreender a ideia do trabalho e isso tem muito a ver com o sentimento do fotógrafo. Vi num programa sobre fotografia um fotógrafo que dizia que não gostava de nomear suas fotografias. Assim as pessoas que as vissem teriam a liberdade de interpretá-las segundo a sua própria visão. Pode até ser, mas nesse caso acho que a obra perde a identidade do autor. Vira algo subjetivo de quem vê e não de quem criou.

  • Walter J. Peres consegue ficar contemplando a natureza sem uma máquina fotográfica?


Eu nasci no interior, então sempre tive muito contato com natureza. Desde cedo gosto do cheiro de mato, barulho de água correndo, pescaria, canto de pássaros no ambiente deles; essas coisas que a muvuca urbana não permite. Cada escapada pro mato é uma renovada na alma. Mas admito que prefiro contempla-la através de uma lente. Talvez porque isto seja uma forma de levar tudo pra casa sem tirar nada do lugar.
  
  • Apesar de estarmos na era da informática e com tantos recursos fotográficos, a "hora mágica" como os fotógrafos chamam, ainda é importante para garantir aquela foto excepcional?


Sem dúvida. A primeira e a última luz do dia são mesmo mágicas. Dia desses eu fui com minha esposa, Raquel, que sempre me acompanha nessas saídas fotográficas, a uma cachoeira no final do dia, pois queria pegar essa luz do finalzinho do dia. Chegamos lá e a cachoeira estava cheia de gente e acabou quebrando o clima, não rolou. No dia seguinte saímos de casa às cinco da manhã descendo ladeira no escuro com apenas uma lanterninha na mão. Quando veio a primeira luz do dia estávamos lá, no pé da cachoeira, prontos pra fotografar. Fiz uma das fotos mais belas que tenho. Numa outra hora eu não faria aquela foto, mesmo usando filtros e outros recursos da fotografia.
  • Nas fotografias em preto e branco de seus ídolos Araquém Alcântara e Sebastião Salgado, existe um surrealismo mágico, tentar captar essa mesma composição vai além dos recursos técnicos ou é preciso uma percepção diferenciada?


Eu acho que esses caras fotografam com a alma. Imagino que Sebastião Salgado, por exemplo, deve chegar aos lugares pra fotografar e com aquele jeito pensativo dele, deve ficar pensando, olhando, sentindoe revelando a fotografia na sua cabeça. Quando ele a tem pronta, pega a câmera e registra.
Quanto ao preto e branco eu penso que ao tirar as cores da fotografia, você a cerca de mistérios. Fica algo meio invisível por trás da luz e das sombras sem revelar peculiaridades da fotografia. Por exemplo: faz sentido imaginar que uma pessoa alegre e despojada use roupas coloridas, alegres e tal. Numa fotografia em preto e branco, a menos que essa pessoa mostre isto nas suas expressões, você não consegue perceber o estado de espírito dela. O PB mostra sem, no entanto, revelar tudo.Fica algo escondido que nunca é revelado. Talvez por isso seja tão encantadora.

  • Já que o seu tema é a natureza, o que os brasileiros precisam entender para conservar melhor o meio ambiente?


Infelizmente não é um problema só de nós brasileiros; o descaso é global e a natureza vai cobrando isso. Seca aqui, enchente ali, calor insuportável, tudo isso é reflexo desse descaso. A preocupação com a ecologia é relativamente nova (leia-se recente) se pensarmos no quanto já destruímos. É preciso repensar a forma como lidamos com o nosso planeta e pensar um pouco mais em preservar e explorar mais inteligentemente os recursos que a natureza nos dá. Essa mentalidade pode levar tempo, mas é urgentemente necessária. A consciência ambiental exige educação para isto, e nesse aspecto somos ainda muito mal educados. Falta a sensibilidade, que pra mim é mãe de todas as virtudes.

  • Tirar fotografias sempre rendem boas histórias, em meio a natureza então nem se fala. Há alguma curiosidade sobre alguma fotografia que poderia nos contar?


Um dia eu e minha esposa fomos a um rio próximo a minha cidade, pois eu queria fotografar umas cascatas que eu havia encontrado pelo Google Earth. Na volta passamos ao lado de uma fazenda muito próxima do ponto onde fomos fotografar. Enquanto eu fotografava alguns gaviões carcará, chegou o dono da fazendo P da vida dizendo que havíamos invadido as terras dele e que o rio era área de preservação e tal... Na verdade não havia porteiras ou alguma placa dizendo que era proibida a entrada. Bem, meia hora depois de muita discussão e de finalmente tê-lo convencido de que também nos preocupávamos com a preservação - aliás, havíamos levado um lixo que outras pessoas haviam deixado lá em outra ocasião - ele pediu mil desculpas por ter sido tão ríspido conosco e acabou nos convidando para um churrasco na casa dele, quando desejássemos voltar.

  • Quais são os projetos futuros, o que pode nos falar sobre eles?


Não tenho nada específico em mente. A ideia é continuar fotografando como uma brincadeira, mas de maneira responsável e respeitosa e que o resultado disso possa, de alguma forma, ser percebido, ainda que apenas na agradável sensação de alguém ver algo de belo quando parar o olhar sobre uma foto minha.

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