EXPOSIÇÃO - "MEIRE DE OLIVEIRA APRESENTA AS GAROTAS DO BEM"

De 25 de Abril à 25 de Maio de 2015

A exposição é baseada na obra O Grande Livro das Garotas Do Bem Vol I, SESI-SP Editora, lançado em dezembro de 2014, concebido e co-escrito em parceria com Sofia Schwabacher, 10 anos, filha de Meire de Oliveira. Quinze aquarelas, 15 Garotas Do Bem – contemporâneas, charmosas, autênticas! O que cada registro tem em comum é o amor que se vislumbra em cada detalhe, de pincelada em pincelada, compondo estas crianças inventadas, baseadas em fatos reais e imaginários. O instante mágico que a aquarela consegue captar e reverberar. 



                                                               MARIA ANTONIETA

                                                                         LOVELY

                                                                        CAMÉLIA

                                                                     DOMINIQUE

                                                                           LOLA

                                                                          THÊMIS

                                                                              CLÉO

                                                                            MONA

                                                                             MOIRA

                                                                           MAYA

                                                                              ÍSIS

                                                                             BOOT

                                                                          AMORA

                                                                            SOFIA


MIA



 A ARTISTA

                                          Foto: Ricardo Miyajima

 Meire de Oliveira


  Meire de Oliveira nasceu na cidade de São Paulo, no século XX. Desde criança entendeu que sua vocação era derramar-se sobre papéis, desenhando, pintando e escrevendo sem parar. Formou-se em arquitetura e urbanismo na Universidade de São Paulo, montou seu atelier e fez seu destino entre lápis-de-cor, tinta e conceitos mais ou menos elaborados, sobre os tantos temas que a interessam vivamente. Ao longo do seu percurso artístico recebeu importantes prêmios, como o Gourmand World Awards 2010 (Melhor Livro Brasileiro de Gastronomia, com a obra Gastronomia Sertaneja, de Ana Rita Suassuna), o Prêmio Abril de Jornalismo 2011, categoria Melhor Matéria Completa (com a edição de dezembro de 2010 da Revista Alfa) e o 1º Lugar no Prêmio Jabuti 56ª Edição, em 2014, categoria Ilustração, com a obra Brasil- Imagens sob a Ótica da Artista Meire de Oliveira.



E-mail: aquarelista@globo.com



Entrevista com Meire de Oliveira


     Foto: Ricardo Miyajima



A curiosidade é grande, que livro Sofia leu para inspirá-las esta encantadora obra?

Na verdade foram 3 coleções encantadoras: Judy Moody, de Megan McDonald, As Rosas Inglesas, da popstar Madonna e a coleção Diário de Pilar, de Flávia Lins e Silva.

O livro passa um pouco de noções de boas maneiras, como incentivar a leitura, cuidar dos livros, cultivar a auto-estima e outras dicas. Dar essas orientações são a base do projeto?

Sem dúvida. Percebo hoje uma orientação equivocada para a banalização do sofrimento alheio, para que se ridicularize as virtudes. Pessoalmente muito me incomoda ver uma criança consumir bonequinhas anoréxicas, com hematomas, expressão blasé de morta-viva, zumbis aborrecidas. Ou ainda publicações que estimulam o trato entre as crianças através de grosserias, insultos... Ora, ninguém quer ser otário!
Este primeiro “filão”, o da morte, a descaracteriza inventando que ela seja engraçada. Não sou contra abordar a morte, desde que com respeito, profundidade. Criancinhas deveriam ser poupadas de guardar bonecas em câmaras funerárias de papelão. E como ninguém é otário, resolvemos criar nossas personagens – alegres, leves sem ser levianas, infantis como  se deve ser na infância, vivas e saudáveis.
Quem publica deseja ser lido, deseja ser remunerado, claro. Mas para mim deve existir um limite ético que rege e freia o desejo puro e simples de “fazer dinheiro” com livros e seus derivados que possam a desvirtuar as relações entre as crianças.  
A brincadeira entre mães, pais e filhos também norteou a obra. No processo aproveitamos para nos aproximar ainda mais, se é que isso é possível.

Eu acho que alguém deveria publicar sobre os garotos do bem, ensinando a importância do cavalheirismo, por exemplo. Não é da mesma opinião?

Sim! No entanto, como a massa do livro foi feita com matéria prima de nossas próprias vivências, eu não teria tanta história para contar de meninos. As Garotas Do Bem nascem de nós duas – da menina Sofia e da minha menina interior.

Cada garota do bem possuí seus defeitos e suas qualidades, algumas tem até "super poderes". Essas características servem para as leitoras se identificarem com as personagens?

Exato. Na verdade elas fazem coisas bem simplesinhas, bem fáceis de se repetir, não acha? Agora, as que fazem coisas mirabolantes estimulam a fantasia das crianças, onde tudo pode e deve ser possível. Com o “super-poder” de se encantar com realidades reais e inventadas, intencionamos criar identificação com o público infanto-juvenil.

A literatura infantil é muito baseada em fantasias, na obra de vocês o que conta mais é o uso da imaginação e uma realidade aceitável. Não acha que os exageros nessas ficções dificultem a criança a se adaptar ao mundo real?

Nesse ponto penso que as duas vertentes são válidas. Muitas vezes a literatura se investe da fala de uma personagem absolutamente inverossímil para abordar metaforicamente uma realidade complexa demais para a criança, que de forma direta não poderia compreender, mas que dentro do universo da lenda, da fantasia, é capaz da abarcar significados.

Para a artista e mãe, existe uma preocupação com o mundo que estamos deixando para os nossos filhos?

Absolutamente sim! Sou uma otimista incansável, admiro muito as conquistas tecnológicas de nosso tempo e me considero zero saudosista. Assim como a Do Bem Mia, tenho saudades do futuro! No entanto sofro ao perceber a escalada da violência, da crueldade, da ganância, da impaciência. Isto tudo gerando novas neuroses, essas que a OMS vive anunciando ter registrado... Isto sem falar da consequência desastrosa desse modo de hoje existirmos sobre o meio ambiente.
Do que me recordo de criança do século passado, ao que observo em minha filha, vejo que se perdem habilidades – manuais, sensoriais, a observação mais atenta – ainda que ela saiba dominar um fofone super bem, muito mais hábil nisso do que eu jamais poderei ser!

O livro é rico em detalhes, textos bem elaborados, as ilustrações são magníficas! Como diz o prefácio, tem amor emanando da obra. Como foi esse processo de criação entre mãe e filha, e se há alguma história curiosa para contar.

É tudo verdade! Por isso tem tanto amor. Nosso processo é aquele mesmo: brincando, rindo dos absurdos que criamos, anotando tudo sem nos censurar. Gostamos de absurdos bem humorados. E eu, como ilustradora, adoooro detalhes gráficos, que se leem em camadas, a cada leitura se captando mais um. Aqui e acolá aparecem intervenções da Sofia sobre a minha ilustração, em forma de sobreposição e colagem. Tudo sendo uma questão de edição, devo ao Marcello de Oliveira, que assina a direção de arte do livro, o resultado feliz entre o meu desenho e o da Sofia.
Gosto da ideia de desenhar um livro que não seja descartável, que dê vontade de conservar consigo, em respeito ao investimento do leitor, e à arvore que cedeu sua polpa para que o livro fosse impresso.
E agora uma historinha de bastidores: Demorei meses até perceber que estávamos escrevendo um livro. No dia em  que teria que enfrentar uma viagem de ônibus de três horas com a Sofia, resolvi colocar o nosso caderninho de histórias disparatadas na mala de mão... Foi exatamente nesse dia que caiu a ficha: – Estávamos escrevendo um livro!


O livro tem um gostinho de quero mais. O segundo volume já está em fase de criação? Seguirá o mesmo estilo? Afinal, o que nos espera?

Sim, já estamos escrevendo o volume II! Está sendo muito engraçado, porque dessa vez a Sofia cria as Garotas dela enquanto eu crio as minhas, depois fazemos uma louca fusão! Eu vejo tudo em imagens, e das personalidades que criamos já emanam os rostinhos. A novidade é que as Do Bem crescem com Sofia. Estão na pré adolescência, mudam interesses, seus mundos interiores se aprofundam. O que faço é observar pra onde se dirige o interesse dessa geração, pois fui criança num “outro mundo”, pré internet.
No mais nossas Do Bem continuam charmosas, bem humoradas e cheias de estilo!

Parabéns pelo prêmio Jabuti - Meire de Oliveira foi premiada como melhor ilustradora de 2014, pelo livro: Brasil sob a ótica de Meire de Oliveira, Empresa das Artes Editora - O livro é perfeito, ele informa com uma linguagem fluente e seduz com as ilustrações, entretanto ele é uma declaração de amor a arte da aquarela. Como foi casar informações e emoção de forma tão natural?

Agradeço a você pela admiração e reconhecimento à minha obra!
Eu sou absolutamente emocional e intuitiva, então me é natural expressar isto em toda e qualquer obra da qual participe  – seja através da pintura, seja pela escrita. Os desenhos que compõem o livro  Brasil levaram cerca de 20 anos para serem agrupados, o que resulta muito vivido e genuíno. De algum modo isto transparece no livro. Imagino que seja a emoção que toca o leitor, o observador, e por esta razão a obra obteve tal êxito por parte da crítica especializada. Agora, receber o Prêmio Jabuti, só posso dizer que foi surreal! Muito feliz!



A obsessão pelo pincel número 0 e a qualidade dos teus traços mostram o quanto é perfeccionista. Tem horas que essa busca pela perfeição te atrapalha? Como convive com esse "defeito"?

O perfeccionismo na pintura me diverte! E lá vai história: Certa vez tive que ser internada por causa de uma pneumonia. Como não havia escolha, lá permaneci por 5 longos dias. Eu tinha uma encomenda de uma revista, e a deadline caia exatamente no dia seguinte à minha alta prevista. Aos que não são “do ramo”, explico que o termo deadline define o data final de conclusão de um trabalho. E como eu me gabo de nunca ter “queimado” uma deadline, convenci os médicos de que me recuperaria até mais rapidamente se pudesse pintar no período hospitalar. Instalei a sucursal do meu ateliê no quarto e, mesmo com o soro na mão direita, pintei, pintei e pintei. Para mim a situação era hilária! Tratava-se de uma página dupla com o peixe pirarucu. O “Pirarucu pneumonicus” tinha tantas escamas... Graças a Deus! Minha estada hospitalar foi mais leve assim, de detalhe em detalhe. Em silêncio, eu agradecia ao peixe por ter tanta escama para minha diversão!

Como admiradora da escritora e ilustradora inglesa Beatrix Potter, que deve ter inspirado muitos artistas, nunca pensou em criar personagens de fábula assim como ela?

Não exatamente. Eu também admiro essa artista, muito, e a cito no meu livro Brasil. Porém acho que meu foco não é a fábula. Gosto de observar e criar através do que me inspira no mundo real, tão rico em possibilidades.

Você conserva aquele espírito infantil, de estar sempre revivendo em pequenos detalhes do cotidiano, coisas que a maioria adulta esquece. Consegue descrever como é viver o privilégio desta felicidade e como isso te ajuda?

Ah, eu sou criança! Totalmente. Minha vivencia comigo mesma é muito agradável, pois curto muito essa menina interior, cheia de pequenos encantamentos.
Mas sabe, vou contar uma aparente discrepância: Faz 3 anos que sou síndica, um cargo de responsabilidade que exige de mim foco, respeito às normas, responsabilidade. Eu suporto tudo isso, funciono assim se me cabe sê-lo. No entanto, a criança interior latente se magoa com muita facilidade, então só posso ser síndica – ou Sindy, se preferir – se todos, TODOS no condomínio, gostarem de mim!

A sua filosofia de não propagar o mal em suas obras é muito conveniente nos dias atuais tão corrompido, onde certo público prefere ficar chocado do que encantado. A arte pode conscientizar essas pessoas?

Eu acho que a arte pode encantar, perturbar, agradar, alterar, chocar, informar, até corromper. Depende do tema do artista, e até da sanidade mental deste. Seria ideal que minha obra sobrevivesse a mim mesma, daí minha preocupação com o legado. Quero que minha obra esteja em estreita consonância comigo mesma, que expresse quem sou. Claro que às vezes só enxergo o lado degenerado das coisas, mas sei que esta é falsa visão da realidade, pois na manifestação do Todo é que se encontra a Harmonia. Busco esta qualidade, e quando estou perturbada, recolho-me até reencontrar a capacidade de ver. 

Como artista você esta vivendo "o momento". O reconhecimento do público e o prêmio Jabuti. Como é administrar essa emoção e manter a simplicidade?

No período super midiático que precede e sucede imediatamente à premiação, acho que caminhava a uns 50 cm do chão, flutuava, e me permitia saborear a conquista com muito prazer! Mas depois tudo se encaixa, tudo se acomoda.
Eu gosto das mesmas coisas desde criança: costurar, pintar, ler, caminhar, colecionar papéis, botões, tecidos... O que eu gosto, já possuo. Aquilo que nunca me interessou, continua não me interessando, então não preciso lutar para obter essas coisas. E assim fica fácil ser simples!
Agradeço a toda e qualquer pessoa que se interesse por minha obra! E agradeço imensamente aos meus editores Fábio Ávila e Rodrigo de Faria e Silva, por terem feito de minha brincadeira uma possibilidade de leitura e comunicação com o público leitor.
Abraços!



O Grande Livro das Garotas do Bem, SESI-SP Editora.


Diretor de Arte - Marcello de Oliveira - KPMO©

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