EXPOSIÇÃO VIRTUAL 'AVES ILHA COMPRIDA' - MEIRE DE OLIVEIRA


OBRAS

Batuíra de Bando

Batuíra de Coleira

Carcará

Colheireiro Americano

Garça Azul

Garça Branca Pequena

Gavião Carrapateiro

Guará

Irerê

Marreca pé-vermelho

Martim Pescador Grande

Maçarico de Papo Vermelho

Maçarico Galego

Maçaricão de bico virado

Papagaio de cara-roxa

Quero-quero

Saracura três potes

Savacu

Tesourão

Urubu de cabeça-preta


ARTISTA

        Foto: Ricardo Miyajima

Meire de Oliveira é uma artista paulistana que vem desenvolvendo um trabalho em aquarela com forte temática no meio ambiente brasileiro, acreditando que conhece-lo é respeitá-lo, que apreciá-lo é tornar-se dele um protetor. É autora de BRASIL – Imagens sob a Ótica da Artista Meire de Oliveira, Editora Empresa das Artes, e junto com sua filha Sofia Schwabacher escreveu ainda O Grande Livro das Garotas Do Bem Vol I, SESI-SP editora. 

contato: aquarelista@globo.com


ENTREVISTA COM MEIRE DE OLIVEIRA






A técnica suave da aquarela e a precisão dos teus traços nos detalhes das aves dão homogeneidade ao livro, tornando-o único e belíssimo. Todo esse empenho fez você ver as aves com outros olhos, notando detalhes que antes não reparava?

Com certeza! Posso dizer que examinei exaustivamente a morfologia de cada ave, seu equilíbrio estrutural, porte, olhar, trejeito, textura, cor... Nunca mais as verei com o olhar de antes. Tenho por elas mais respeito e admiração do que nunca. 
A exposição física dos meus originais em Ilha Comprida está sendo muito procurada pelos locais – os caiçaras, habituados à companhia dessas aves. Essa gente simples me diz que a partir da visão das aquarelas tiveram sua percepção das aves modificada. Com palavras diretas, comunicam a mim que neles aflorou uma nova sensibilidade, perderam a suposta banalidade que o convívio cotidiano com esses animais faria supor.  

Como deu-se a parceria entre você e o doutor Edison Barbieri?

O Professor Doutor Edison Barbieri tem um histórico de longa parceria com o Prefeito do Município de Ilha Comprida, Décio Ventura. Nas palavras deste último, iniciaram o trabalho de “contar passarinhos” há 17 anos, num processo meticuloso e extenso, com o qual concluíram ser quase 300 as espécies que frequentam a ilha todos os anos. Por tal empenho o nome do professor foi uma indicação inescapável. Um privilégio que nos foi oferecido, ao podermos contar com alguém que tanto conhece o assunto nos dando um generoso respaldo técnico.


Qual desses desenhos te deu mais trabalho para fazer, e qual dessas maravilhosas aves é a sua favorita?

Foi trabalhoso diferenciar aves muito semelhantes. A saracura-três-potes e sua prima saracura-do mato tem quase a mesma coloração, então tive que apurar o olhar para perceber que a primeira tem manto e dorso ligeiramente mais azeitonados, além de uma mancha na nuca que se interrompe em direção ao manto... Ou seja, tive também que absorver esse léxico técnico para buscar características bastante específicas. 
É difícil apontar minha ave preferida, mas posso dizer que as garças me atraem muito por sua beleza e porte delicado, flanando no ar. Em todas aprecio o olhar profundo, que parece guardar segredos. São todas tão lindas, incluindo as menos incensadas, como os urubus.

Realizar um trabalho sobre a natureza requer conhecer o cenário pessoalmente? Até onde isso é importante?

Embora eu já conhecesse Ilha Comprida e região, digo que conhecer o local é relativamente importante. Cercar-se de bons pesquisadores é mais importante.  Pertencer à uma equipe engajada, corajosa e talentosa é crucial. 
Na realidade, um trabalho extenso como este envolve muitas horas de confinamento no atelier. Também a parceria com o poder público demanda muito empenho, respondendo atentamente documentos, indo à cartórios, correios. Ao trabalho também correspondem muitas horas em frente ao computador, dando feedback aos parceiros envolvidos, pesquisando iconografia, checando informações nos livros.  
Produzir as imagens não significa copiá-las de alguma foto, aliás as fotos disponíveis nos sites tem direitos autorais reservados.  Então pintar estas aves requereu cruzar imagens, conflitar com informações escritas, contextualizá-las com o entorno, o habitat das aves.
Todos estes momentos são igualmente fundamentais, não sobrando muito tempo para o reconhecimento in loco. Isto deixa antever que um livro como esse é resultado do labor bem coordenado de muitos agentes, uns mais visíveis do que outros. Ao final pode dar a impressão de que “a aquarelista é a vocalista da banda”, mas a verdade  é que desde o início até a distribuição do livro, “a equipe tocou os instrumentos com muita afinação”.


Como conciliar uma arte tão intuitiva como a aquarela com desenhos que requerem uma precisão nos detalhes para um público mais especializado?

Na verdade eu me sinto trabalhando 100% com a intuição, buscando detalhes que traduzam “a alma” dos meus passarinhos. Atenta a isso, é quase uma consequência natural que o resultado também atenda à necessidade de um pesquisador especializado ou de um estudante.


Quais aves que ficaram de fora do livro mas que você gostaria muito de desenhar?

Muitas, mais de duas centenas! A Ilha corresponde a um verdadeiro tesouro no contexto da preservação dessas aves, que lá vivem ou que fazem parte do seu ciclo anual nesse habitat . 
Vinte anos atrás tive um vislumbre delas quando um dia passeava pela praia e centenas atravessaram meu caminho em direção ao mar. Fiquei sem fôlego. A visão permanecerá em minha mente, impactando. São estas tantas aves que sequer conheço que faltam ao livro, ou que aparecerão talvez num próximo volume.


Quando você inicia um trabalho desta envergadura, com 50 desenhos ou mais, você começa pelos desenhos mais difíceis ou os teus preferidos? Há uma estratégia?

Sigo a pesquisa, as respostas que vou obtendo de minha equipe, além da boa e velha intuição, pois também eu vou fazendo enquanto aprendo, e aprendendo enquanto faço.

Você disse que retratou as aves virando o papel de "cabeça para baixo". Explique por que usou desta técnica.

Ao meu grupo de estudos costumo dizer que esta é a melhor dica que posso lhes dar. Desenhar, compor, pintar, sempre que possível virando o papel de ponta cabeça. Parece maluco, mas tente perceber detalhes dessa maneira e saberá que estes ficam mais evidentes. Isto porque costumamos ter o olhar embotado, cultivando “pré-conceitos” em relação às formas, às cores. Achamos que sabemos como é um arco-íris, uma pedra, a cor da areia, que conhecemos a cor dos olhos de nosso filho. Com frequência apenas fizemos um julgamento, sem de fato ver e perceber.
Virar a folha é um método seguro para enganar um sujeito que sempre tenta se intrometer no processo da pintura. Esse cara é o co-piloto, também conhecido como Sr Piloto Automático. Observe que algumas aves tem “pinguinhos”, e que essas marcas parecem iguais por todo seu corpo. O Piloto Automático vai querer que os dedos imprimam as marquinhas como se fossem carimbos feitos de modo mecânico com o pincel, para “resolver o caso”. Bem, ao pintar com a folha de ponta cabeça ficamos perdidos, temos que redobrar a atenção aos detalhes para não arruinar um trabalho que já consumiu horas, talvez dias. O Sr Piloto Automático não suporta essa dificuldade toda, então deixa a sala e nos deixa trabalhar. Acreditem, não o faço por masoquismo. É que sempre dá certo!


O que mais poderíamos fazer para conscientizar o brasileiro sobre as riquezas naturais de seu país?

Diante do meu livro BRASIL – Imagens sob a Ótica da Artista Meire de Oliveira, muitas pessoas comentam desesperançadas, “ah, se o Brasil fosse assim...”. Respondo que o Brasil É assim, pois não criei nenhum lugar, nenhuma história, flor ou animal, assim como espécie alguma dessas aves foi criação minha. Apenas dei a elas visibilidade, e isso talvez traga consigo um pequeno efeito transformador. 
Acredito que ao conhecer nossas riquezas naturais, nosso patrimônio tangível e intangível, a pessoa tende a se tornar guardião desse tesouro – se orgulhará dele, desejará vê-lo preservado para as gerações futuras. 
Devemos divulgar incessantemente o conhecimento que temos sobre nossas riquezas naturais, ampliando esse conhecimento sempre que possível, repercutindo e disponibilizando o que sabemos, também sempre que possível. O que não podemos permitir é que se faça confusão entre o empobrecimento ético e moral que o país atravessa, com pobreza em beleza ou em recursos naturais, pois nisso somos abençoados e abundantes. 



O próximo trabalho da Meire de Oliveira, seria ainda sobre a fauna e flora brasileira? O que nos aguarda?

Estou envolvida em alguns projetos, mas terei que fazer segredo... E sim, flora e fauna continuarão emprestando suas cores à minha aquarela. Espero ter chegado apenas na metade deste meu caminho!





Meire de Oliveira é uma artista pauli
stana que vem
desenvolvendo um trabalho em aquarela com forte tem
ática no meio ambiente
brasileiro, acreditando que conhece-lo é respeitá-l
o, que apreciá-lo é tornar-se
dele um protetor. É autora de BRASIL – Imagens sob
a Ótica da Artista Meire
de Oliveira, Editora Empresa das Artes, e junto com
sua filha Sofia
Schwabacher escreveu ainda O Grande Livro das Garot
as Do Bem Vol I, SESI-
SP editora.

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