EXPOSIÇÃO - "OITO ESTAÇÕES" - SANTIAGO RIBEIRO


 DE 26 DE MAIO À 26 DE JUNHO DE 2015


SOBRE A EXPOSIÇÃO


         O prazer e a dedicação em criar maquetes artísticas sempre foram para Santiago Ribeiro um desafio e uma constante evolução nas artes visuais que sempre o seduziu. Sorocabano de berço, que aos seis anos de idade se inicia na arte de criar maquetes de todos os gêneros e se declara apaixonado pela arte em seu todo. Especificamente nestes trabalhos, assim como também é presente nas mais antigas produções onde o olhar muito observador e atento aos preciosos detalhes que muitas vezes poderiam passar despercebido, Santiago Ribeiro não deixa escapar e as capta, de forma fiel e autêntica, apresentando uma veracidade tão coerente e tão verossímil que muitas vezes se confunde com a própria realidade da obra representada na maquete.  Santiago Ribeiro percebe uma similaridade no coração dessas cidades (espaços), a percepção que fica nítida diante das obras escolhidas para esta mostra. “Outra percepção, esta que considero mais mágica, vem das características rurais e bucólicas desses lugares, pois transcendem as diferenças de cada região retratada e se mostram uniformes em cada cena. Nesta exposição há quatro trabalhos que fazem parte de uma série chamada “Lembranças Sertanejas” e minha expectativa é ver a reação das pessoas diante dessas obras que fiz com um cuidado especial justamente na intenção de remeter ao público, principalmente mais velho, uma viagem nostálgica aos cenários de sua infância”. O trabalho da exposição é o extrato de uma pequena jornada de viagens virtuais e narrativas de familiares realizadas em três anos de produção.
O seu olhar se volta para as informações expressas das maneiras mais diversas, sempre com o intuito de trazer uma mensagem clara. No entanto, pela forma de se lançar sobre este tema em que retratou uma favela, intitulada “Um Futuro a Colorir – Favela das Pacificações” com todos os seus preciosos e minuciosos detalhes, o artista nos oferece outra cidade, reflexiva e absolutamente artística, que se distingue pelo caos, mas ordenada dentro de uma lógica visual própria, elaborada com uma proposta direcionada e pontual para convidar o público a refletir sobre velhas questões sociais diante mensagem quase subliminar, mas com um embasamento bastante peculiar e instrutivo. Dentre diversos trabalhos de maquetes com esta temática, esta é a segunda com a qual se lê uma mensagem social bastante clara e objetiva. Com um gesto sutil, mas contundente, Santiago propõe uma reflexão profunda acerca dos problemas habitacionais dos grandes centros urbanos e, mais especificamente, sobre a onda de “pacificações” dos mesmos. O processo de pesquisa se iniciou ainda em 2010 logo que a questão das pacificações das favelas cariocas tornou-se um desafio ao poder público e com elas a dualidade das questões sociais em evidência. Ora por um lado acerca de um projeto de reurbanização das favelas, inspirado pela tentativa da diminuição da violência e de melhor qualidade de vida. Ora pelo resultado negativo deste processo, incitando uma nova onda de terrorismos, de guerra urbana e de incertezas, culminando em corrupções e o agravamento da violência oriundos do poder de traficantes. O talento de criar maquetes reside na capacidade de enxergar o mundo de jeitos diferentes. Há nestes seus trabalhos minuciosos e de qualidade a pratica permanente de um exercício de ver aquilo que para muitos passa despercebido. Reside aí o segredo de exercer uma educação permanente do olhar, oferecendo sempre uma renovação e uma contemplação. E paralelo a isso, uma aceitação. A arte de visualizar o espaço retratado seja ele urbano ou rural, demonstrada por ele em mais de trinta anos de dedicação assídua se dá em boa parte pela capacidade de retirar da aparente desordem o lirismo, seja nos seus aspectos mais discrepantes ou nos diálogos entre os ambientes e a vida. Dessas relações surge um apelo forte, a ser cada vez mais desenvolvido como experiência da linguagem visual e uma nova tendência das artes plásticas.
Foram necessários três anos de dedicação e preparação assídua para que oito obras fossem criadas para esta exposição. Os lugares retratados em cada uma das maquetes foram escolhidos aleatoriamente de acordo com um leque de opções que havia sobre inúmeras possibilidades. Mas como era preciso uma unidade, os lugares ou cidades citadas nas obras, são de exclusivo gosto pessoal que fazem parte de um desejo de conhecer de perto, como A Ilha de Santorini, na Grécia, e Veneza, na Itália.  Mas eu também fiz um retrocesso às raízes sertanejas e a vida no campo, da qual é oriunda minha família e certamente como de boa parte do público que a visita. A série “Lembranças Sertanejas” é um convite a viajar pelo cenário bucólico e saudosista de um mundo à parte. Pitoresco e fiel as suas características mais marcantes.
Oito Estações é uma viagem ao mundo das artes em maquetes. Por ela será possível ir de Santorini à Veneza, de Paraty ao Nordeste, do lixo ao luxo, em apenas alguns passos, observando atentamente as técnicas utilizadas em vários perfis de trabalho e sobretudo de como as riquezas de detalhes chamam muito a atenção.  Esta exposição é especial pois possuí dois significados. O primeiro é justamente o meu retorno às exposições individuais depois de 11 anos. E o segundo, é a marca do encerramento de um ciclo de trabalho, de execução e criação, ou seja, a ideia desta nova fase de produção seriam de criações mais voltadas para os mundos fantasiosos, inexistentes, mágicos e surreais, já com interesses no cinema.  Portanto “Oito Estações” é um convite para rever todo um processo de criação e estudo em quase 30 anos de dedicação as maquetes.

OBRAS

















ENTREVISTA


          


  • O título da exposição: Oito Estações, é uma referência a um passeio pelas oito obras?

Exatamente


  • Ao confeccionar uma maquete, existe o sentimento de idealizar um mundo ao seu modo ou o artista procura compor a realidade como ela é?

As duas coisas. Há momentos em que eu preciso me desvincular da realidade, ou seja, criar maquetes de lugares ou cenários que existam, para mergulhar na fantasia, no irreal e no imaginário o que considero muito importante este novo processo, pois possibilita uma sucessão de ideais novas e criatividades que necessitam ser exploradas. Se eu fico restrito apenas a criação de mundos existentes, corre-se o risco de cairmos no ostracismo e na estagnação criativa. E eu acredito que todo artista deve sempre se explorar e aprender novas possibilidades, seja ele em modalidade for.


  • Como são obras muito delicadas, quais são as preocupações do artista ao deixa-las sobre a responsabilidade dos expositores?

A mesma responsabilidade quando você entrega um filho aos cuidados de alguém. Porém nem sempre ocorre este cuidado especial sobre minhas obras. Já aconteceu muitas vezes delas sofrerem vandalismos justamente por estar “abandonadas” e sem nenhuma proteção. E isso é uma velha questão que pela qual eu sempre bato de frente quando vou expor em qualquer estabelecimento cultural: a falta de segurança. Infelizmente vivemos sobre a cultura de “olhar com as mãos” e muitas vezes o público acha que tem o direito de fazer o que bem entender com a obra. Mas não é bem assim. Seja escultura, seja maquete, seja pintura, seja fotografia o olhar com as mãos não me agrada e nem sempre as pessoas tem o cuidado em apenas contemplar, sobretudo crianças. Mas independente da obra, acredito que deve ser da responsabilidade do espaço zelar por elas.  Afinal de contas no meu caso, as obras são meramente contemplativas e não interativas.


  • Ficam nas obras todo o apreço do artista, na riqueza dos detalhes e no bom humor, que denotam o prazer de criar. O artista Santiago faz as suas obras para admiração do público ou para o seu próprio deleite?

Para ambos. Toda obra é um reflexo do que pensamos e uma parte de nós que vai de encontro ao público, dialogar, provocar e instigar. Esta é meta. Este é todo o sentido do fazer arte pra mim. Não é exagero em afirmar que a arte de criar maquetes, ou de fazer colagens e escrever romances é tão importante pra mim como o ato de se alimentar. Se é deleite para mim, deve ser para o mundo também.


  • Como as maquetes são muito bem feitas, imagina-se que elas são copiadas fielmente da realidade, mas um artista tem a liberdade de poder criar, inventar, acrescentar e até de brincar. Você usa muito desta liberdade criativa nas suas obras?

Sempre, mesmo quando se trata de encomendas para uma clientela específica, fora do meio artístico por exemplo. Criar maquetes é sempre uma brincadeira. É como ter o mundo em suas mãos e dele fazer o que bem entender. São os meios para que a obra não fica tão fria ou distante. Sempre busco acrescentar algo para que esta obra tenha um charme a mais e uma característica peculiar. Uma marca ou um signo que a distancie do comum.


  • Quando se fala em miniaturas ou maquetes, lembramos logo de nossa infância. As crianças  são a parte do público que mais se encantam com as maquetes?
Sempre. O encanto é imediato e isso às vezes me causa até pânico (rsrsrs)


  • Você usa a mesma escala para todas as maquetes?

Não, as escalas variam. Mas geralmente é sempre a mesma. Eu não costumo me basear em escalas, mesmo porque, no meu caso, elas são intuitivas. Ou seja, crio de acordo com a minha perspectiva, aguçando e estudando com o olhar e uma visão técnica/sensitiva sobre o que será retratado. Somente há alguns anos atrás me informaram que a escala que trabalho é de 1:100. Se for realmente, esta é a escala que uso em 90% das minhas criações.


  • Alguma maquete deu mais trabalho pra fazer que o esperado?

Sim, a Ilha de Santorini. Cheguei a renegar e desistir no meio do caminho. Mas isso em partes foi por conflitos internos e a velha canseira do artista onde sempre se questiona: por que estou fazendo isso? Qual o sentido disso? E mesclado ao cansaço físico, este projeto acabou saindo fora do esperado e demandou muito mais tempo para sua execução.


  • Você diz que para o futuro criará maquetes com temas de surrealismo e misticismo. Pode nos adiantar algo mais sobre esses projetos?

Será justamente aquilo que expliquei acima sobre o lance de criar novos mundos e possibilitar uma nova auto exploração. É o momento da ruptura do convencional ou do comum (coisa que tenho pavor ser rotulado). É aquele momento em que o artista sente a necessidade de mudar suas visões no sentido de permear novos horizontes e sair do mundo pelo qual estava preso. Será a fase do irreal, do misticismo e até do surrealismo. É a fase onde pretendo criar, através de maquetes, mundos que só existam na minha imaginação, com algumas referências no cinema como nos cenários do filme O Senhor dos Anéis, Avatar e etc. É neste mercado que estou de olho agora e acredito que  eu esteja bem amadurecido e confiante neste novo projeto que considero que será o maior desafio da minha carreira. Nesta nova fase, até mesmo a criação do inferno e o sombrio e misterioso mundo a morte serão um dos temas a ser explorado.



  • Você é um artista versátil, além das maquetes, também escreve livros, faz poesias, pinta... Como é usar a arte para extravasar e reforçar suas opiniões?

É sempre um caminho que considero o que mais rápido chega e toca as pessoas. É a representação de sentimentos e emoções, é a busca incessante pelo belo, é a materialização da beleza. É a expressão do artista, de como ele compreende e sente o mundo à sua volta. A arte tem o poder de nos fazer refletir sobre diversas questões da realidade (fatos, valores, sentimentos), ao mesmo tempo em que nos transporta para um mundo a parte em que nos permite abstrair através da apreciação, na qual nos deixamos levar pela contemplação, pelo encantamento. Da mesma forma que a arte pode ser representada de várias formas, sua compreensão também se modifica a cada expectador, podendo ser sentida e entendida de diversas formas. Talvez a arte não possa nos responder uma das grandes perguntas da humanidade, sobre qual o sentido da vida, mas através dela é possível acreditarmos que exista realmente um sentido. Em suma, a arte é a mais complexa alegoria dos sentimentos, a mais bela representação do mundo, eternizada em sons, letras e imagens e tudo mais que se possa transformar em arte.

O ARTISTA

SANTIAGO RIBEIRO



  Santiago Ribeiro é artista plástico, cenógrafo, escritor e poeta. Nasceu em Sorocaba, São Paulo. Desde sua mais tenra idade, já demonstrava interesse pela arte. Aos seis anos, começava a montar suas primeiras maquetes, diretamente influenciado pelo carnaval, inspirando-se nas alegorias das Escolas de Samba. Com o tempo, sempre autodidata, se tornou um verdadeiro e exímio artista, experimentando diversos recursos de material, desde o mais nobre até ao lixo (material reciclado). Suas obras variam de temas e estilos, como o folclore, barroco (sua principal vertente), clássico e contemporâneo. Em fins dos anos 90 começa a criação das suas primeiras colagens com papel _ técnica que consiste apenas de papel e cola_ e as instalações (obra conceitual que integra o espaço como componente estético, não específica a um espaço específico. Aos 13 anos, descobriu a sua outra grande tendência: a literatura. Na arte de escritor começou a criar romances, e seu primeiro livro, ainda escrito à mão, em 1991, foi uma história de terror. Desde então, nunca mais deixou de escrever, sobretudo romances, que é sua maior paixão. Dos anos 1990 pra cá já foram 27 livros escritos, entre romances, poesias, peças teatrais, contos e crônicas. 
  Em 2005 fundou a Confraria dos Artistas Plásticos de Sorocaba, sociedade que presidiu por seis anos, formado por artistas independentes, unidos num propósito comum em divulgar sua arte e sobretudo por ela levar uma mensagem e uma proposta questionadora e reflexiva em suas exposições coletivas, sempre temáticas, explorando desde os temas mais brandos como a Ecologia e polêmicos como a Violência. Em seu currículo, consta 22 exposições sendo a primeira no Sorocaba Clube (2001) e posteriormente em praticamente todos os estabelecimentos culturais de Sorocaba, nos anos da Confraria. 
  Também já expôs trabalhos pela APGA (Associação Portuguesa de Galerias de Arte – Lisboa, Portugal) Em 2010 foi premiado no Concurso de Artes Prof. Flávio Gagliardi, em Sorocaba, pela categoria "Destaque do Ano". Em 2013 voltou a realizar uma mostra individual depois de onze anos. Na exposição intitulada Oito Estações, criou oito maquetes representando vários estilos arquitetônicos do Brasil e do mundo e é um conjunto de obras da qual pretende encerrar um ciclo de criações, ou seja, em seus futuros trabalhos pretende explorar o universo do surrealismo e do misticismo, também em maquetes. Em 2014 foi selecionado no projeto Camada Superficial, organizado pelo Instituto POIESIS e pela curadoria de Héctor Zamora, para realizar uma intervenção urbana com uma instalação intitulada “Resistência”. E no mesmo ano, estreou sua exposição de colagens com papel “O Papel da Fé” na Oficina Grande Otelo. 


Contato: santiago_belasartes@hotmail.com







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